segunda-feira, 19 de novembro de 2012

C'est fini

Já faz um mês que deixei Paris e, como todos sabem, a razão da existência desse blog é justamente relatar minha vida nessa cidade tão linda... Logo, nada mais lógico que ele deixe de existir a partir de agora. Confesso que isso me dói um pouco porque escrever aqui foi muito prazeroso e me deixava feliz. Me descobri um pouco mais, pude me mostrar um pouco mais, pude receber o carinho dos amigos próximos e até mesmo daqueles mais distantes que eu nem imaginava que pudesse alcançar... Eu queria, nessa despedida, agradecer ao apoio, ao carinho, aos incentivos, aos elogios... Fiquei feliz com o resultado. Estou tristinha com o fim, meio que sofrendo de abstinência, mas feliz por começar uma nova etapa. C'est fini!

A viagem de volta

Bom, mesmo passado tanto tempo desde a minha chegada, acho que vale relatar a parte final do minha viagem de volta... Último dia em Paris. Acordei cedo para terminar de arrumar minhas malas, mas mal conseguia andar direito por conta da dor muscular da minha panturrilha esquerda. O proprietário do apartamento, um simpático francês, batia na porta enquanto eu estava no toilette para marcar a vistoria e os acertos finais da entrega do cafofo. Duas horas depois, e já com todas as tralhas e as quatro pesadas malas arrumadas, fizemos a vistoria enquanto aguardávamos o táxi chegar. O taxista teve sérias dificuldades para conseguir colocar as malas no carro e Jivago, já com dores nas costas, o ajudou. Estava para começar a maratona. Chegamos ao aeroporto com certa tranqüilidade no horário e seguimos direto para a balança pública para pesarmos as bagagens antes de fazermos o check-in. Logo de cara, ao colocarmos a maior mala, o desespero bateu: excedemos a franquia permitida em 12kg! Eu, pálida, olhei a balança, já com a segunda mala, e excesso novamente em 6kg! Soltei uma risada desesperada enquanto Jivago se dirigia ao balcão da TAP em busca de informações sobre nossas opções – a única era comprar uma nova mala e pagar pelo seu despache porque, de acordo com a legislação francesa, nenhum carregador pode pegar mais que 32kg. Daí, fomos até o final do nosso terminal ver o valor de uma mala já imaginando que seria o mesmo preço de um copo d’água no meio do Saara. E era. Lembrei que no começo do terminal havia outra loja e pedi que Jivago ficasse ali enquanto eu ia até lá. Acelerei o passo e, chegando lá, constatei que o preço era um pouco mais barato. Animada, e correndo contra o tempo, esqueci da dor na panturrilha e sai correndo... Ma, quando já estava chegando, Jivago me disse que já havia comprado uma mala mais barata. Chateada, olhei para a tal e enlouqueci ao ver seu tamanho (muito pequena para quem tinha tantos quilos para acomodar) e, principalmente, pelo esforço que fiz em vão. Bufando, sentido a panturrilha e reclamando da situação, procurei um lugar menos movimentado para refazer nossa bagagem – e voava camisa para um lado, cuecas para outro, casacos, garrafas de vinho, livros, etc... Tentei fazer uma mágica com aquela malinha e tinha que transformá-la em algo pesado! Corremos para repesar todas as malas. Ufa! Tinha dado certo e todas estavam dentro dos padrões. Procurei por minha mega-bolsa e desesperei porque ela havia sumido. Achei que a tivesse esquecido enquanto arrumava a nova mala e, quando Jivago já estava voltando para procurá-la, a enxerguei no carrinho sob escolta de um policial – depois dos atentados terroristas, qualquer sacola “abandonada” é suspeita! Depois de resgatar minha bolsa, era hora de fazer o check-in, pagar o preju e embarcar. Para minha sorte, pude dar uma última olhada à Torre Eiffel do alto. Linda, como sempre. Duas horas e pouco depois, descíamos na cidade de Porto, em Portugal, onde faríamos uma escala de cinco horas. Fomos até uma estação de metrô (que não recordo o nome) onde deixamos nossa bagagem de mão em um locker alugado e, assim, podermos aproveitar o curto passeio mais tranquilamente. Dali, seguimos para o centro da cidade. Banhada pelo Douro, Porto mais parecia um grande Pelourinho - mas, não sei se por conta da crise, achei que ela estava um pouco abandonada...
 Depois de visitarmos seus principais pontos turísticos, fomos até um restaurante para comermos meu tira-gosto preferido: bolinho de bacalhau. O lugar era super simples, mas a comida estava deliciosa... A dona, uma típica portuguesa alegre e simpática que adorava as novelas do Brasil, ficou feliz em rever Jivago e em me conhecer (na última viagem que ele havia feito para o Brasil, pegou esse mesmo voo com escala em Porto, fez esse passeio que fizemos hoje e conheceu esse restaurante). Enquanto eu bebericava um vinho do porto, nós conversávamos com ela sobre a novela Gabriela... Resolvemos comer um bacalhau... Saboroso!!! Depois de muitas risadas e conversas novelescas, pegamos o metrô de volta rumo à estação onde estava nossas bagagens e, de lá, rumamos para o aeroporto onde pegaríamos voo para Lisboa. Estávamos até animados em pegar uma night lisboeta, mas, como o voo atrasou em 2h, nosso plano foi por água abaixo... A parte boa disso foi que tivemos um avião quase que exclusivo já que só havia, além de nós dois, mais três passageiros - me senti em um jatinho particular! Famintos e cansados, seguimos para um hotel em Lisboa - muito bom por sinal! E, com a promessa de acordarmos cedo para visitarmos a cidade antes do nosso embarque, dormimos. E quem disse que conseguimos acordar? Só deu para tomar café e seguir para o aeroporto. Uma pena! O voo foi tranquilo e, durante as últimas horas, assisti "O Exótico Hotel Marigold", um lindo filme que muito disse da minha experiência francesa: "Nada acabou saindo como eu imaginava. A maioria das coisas não saem. Mas, às vezes, o que acontece no lugar são as coisas boas. (...) O único verdadeiro fracasso é o fracasso de não tentar (...) Viemos aqui e tentamos, todos nós. Cada um a seu jeito. (...) Mas também é verdade que a pessoa que não arrisca nada, não faz nada, não tem nada. Tudo que sabemos do futuro é que será diferente. Talvez o nosso temor é que continuará tudo igual. Então precisamos comemorar as mudanças porque alguém disse que, no fim, tudo dará certo e se não tiver dado certo, então, o fim ainda não chegou".