quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Despedida - parte II


Ala dedicada à arte islâmica
O dia prometia. Hoje era dia de me despedir do Louvre e da Mona Lisa. É claro que isso é modo de falar porque, para mim, existem muitas outras obras mais interessantes que a Gioconda. Brincadeiras à parte, queria mesmo era visitar as outras áreas do museu que eu ainda não conhecia, como a recém inaugurada ala dedicada à arte Islâmica. Mas antes fui visitar a ala onde estão os chamados “objetos de arte” e os “apartamentos de Napoleão”, simplesmente maravilhosa! E, para mim, esses recintos decorados são mais suntuosos e luxuosos que o próprio Palácio de Versailles - queria ter fotografado tudo de maneira mais descente, mas a anta aqui esqueceu a máquina fotográfica em casa e só me restou a câmera do celular... Dali, segui para a ala dos pintores franceses, e revi as obras Renoir, Monet, Delacroix, Cézanne, etc – como eu já tinha visto anteriormente, pouco tempo passei ali. Passei pela ala onde a Monalisa estava e dei um sorrisinho de canto de boca para ela – como sempre, ela estava muito assediada. Desci para ver a área mais nova do Louvre sobre a arte Islâmica, um espaço com dois andares e três mil metros quadrados que congrega cerca de três mil peças do século VII até XIX - o governo francês, em parceria com os governos de Marrocos, Omã, Arábia Saudita, Azerbaijão e Kuwait, gastou mais de cem milhões de euros para sua criação. A exposição é muito bonita, menor que outras, mas muito interessante. Lá, tomei conhecimento de uma arte que a gente só vê em filmes, novelas e revista de decoração: mosaicos, tapetes, portas e janelas ricamente entalhadas, peças de louça coloridas, adagas e muitos painéis interativos que explicam sua trajetória no mundo. Além disso, há um vaso sírio onde suas inscrições são uma carta de amor que talvez seja a mais antiga do mundo islâmico. Algumas horas depois e já com as pernas cansadas, deixei o Louvre e ai vem a parte mais pitoresca do dia: na saída fui cortejada por um francês que, mesmo sabendo que eu era casada, insistia em me acompanhar e tomar um drink. Educadamente agradeci os elogios e o convite e continuei meu caminho até a saída pensando e rindo que, justamente em meus últimos dias na cidade, acontecia algo assim! Já estava morta de fome quando Jivago me ligou dizendo que a burocracia francesa entrava em cena e que, para cancelar nossa conta no banco, eu deveria ir até lá com nossos passaportes. Putz! Respirei fundo e 1h30 depois cheguei ao banco. Esperamos muitos minutos para o atendimento e, assim que sentamos e expusemos o motivo de estarmos lá, veio a “boa”notícia de que não podíamos encerrar nada naquele momento e que deveríamos fazer a solicitação, adivinhem, por carta (já escrevi um post sobre essa burocracia e suas benditas cartas...). Pôxa, até agora sem almoçar para resolver a “urgência” do banco... “Almojantei” rapidinho em casa, assisti online ao capítulo de Gabriela e saímos com uns amigos que queriam se despedir. Fomos a dois bares em uma ruazinha nas proximidades da Place d’Italie. No primeiro, tudo bem e até tomei uma cervejinha fraca chamada Blanche de Neige. Já no segundo...  Entrei animada porque vi no cardápio externo caipirinha e caipirosca e como música de fundo uma canção cantada por Daniela Mercury (Feijão de Corda). Sentamos. Dos cinco amigos que restaram, apenas Jivago e outro amigo pediram algo para beber. Ai começou a ladainha: o monsieur que nos servia meio que fechou a cara porque o consumo era baixo e em menos de cinco minutos depois ele voltou e, usando de um tom mais arrogante e agressivo, disse que não estávamos em uma biblioteca e sim em um bar e mandou que nos retirássemos. Eu e Jivago acabamos saindo irritados com o insulto e, tanto eu quanto ele, mandamos esse “simpático” senhor para a merda. Ficamos do lado de fora esperando o restante dos nossos amigos enquanto um dos nossos amigos, francês, tentava nos explicar que isso era “normal” - tudo bem que na França sentar em um bar ou restaurante significa consumir, mas existem formas mais polidas de induzir o cliente ao consumo. Outro amigo, como um bom e típico inglês, foi relatar o ocorrido ao proprietário do bar e se queixar da falta de polidez do seu funcionário e ouviu de uma senhora, que estava a beber no bar, que, se o tal funcionário havia sido grosseiro é porque nós devíamos ter feito algo de errado. Inacreditável! Meio que desanimados e temendo que o horário de funcionamento do metrô estivesse terminando (e estava mesmo!), resolvemos voltar para casa. Eu e Jivago entramos na estação e, ao nos depararmos com uma grande (grande mesmo) esteira rolante e com o risco de perdermos o último horário, começamos a correr e, para nossa surpresa, todas as outras pessoas fizeram o mesmo! Rimos muito com isso, mesmo depois do ocorrido no bar porque a cena parecia um flash mob em plena estação de metrô. E o incidente com o tal monsieur simpático me fez ter a certeza de que aquele não era o meu lugar.

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