sábado, 20 de outubro de 2012

Despedida - parte final


Domingo, véspera de nossa partida. Acordei e já fui direto para a cozinha fazer a sobremesa para o almoço de despedida de meus colegas do curso de francês na casa da minha mais querida amiga que fiz em Paris, a Angela - uma argentina que tem a idade do meu pai e que é muito fofa, alegre e descontraída e ainda é casada com outra figuraça divertida, o Hugo. A sobremesa era crepe com recheios de banana e maçã - a massa eu comprei pronta. Um deles, o de banana, resolveu queimar e eu tive que fazer outro... Chovia muito, fazia frio quando saímos de casa e carregávamos algumas sacolas que continham coisas do cafofo que ofereci a ela já que não levaria para o Brasil (como cabides, um ferro de passar novinho, utensílios de cozinha, etc.). Como meus sapatos já estavam socados na mala, acabei usando uma sapatilha (modelo errado para a chuva) e por isso eu resmungava do frio e da chuva, mas também tentava me conformar de que isso já estava acabando e que era hora de me divertir. Chegamos. Fomos recebidos de forma muito calorosa. Estava feliz e comovida com o fato da Angela, também às vésperas de sua viagem à Argentina, oferecer um almoço em sua casa. O menu eram as famosas empanadas argentinas - uma maravilha!! Rimos muito lembrando alguns casos engraçados de nossa convivência como o dia em que resolvemos ir até a Ikea de metrô (ver post sobre minha mudança para o cafofo) e nossa dificuldade em carregar as tantas coisas que resolvemos comprar como, por exemplo, os "famosos platos blancos". Risos. Terminamos de comer e a hora de irmos se aproximava porque ainda estávamos decidindo se precisaríamos comprar uma mala extra (porque as malas estavam muito pesadas) e tínhamos que aproveitar o horário de funcionamento das lojas. Cumprimentei cada um, recebi votos de sorte e felicidade, convidei a Angela e o Hugo para nos visitarem no Brasil e, na saída, me emocionei porque ela estava na porta do apartamento com um presentinho para mim: um lindo colar de pérolas e uma pulseira que ela havia comprado na Nigéria, lugar em que morou nos últimos quatro anos. Quanta gentileza! Nos abraçamos forte, disse para ela se cuidar e ela disse que sentiria minha falta. Eu também. É engraçado ver como as relações são construídas e como nos aproximamos daqueles que temos afinidade, independentemente da idade. Eu nunca tive problemas com isso e sempre gostei de conversar com pessoas das mais variadas idades. Gosto de diversificar minhas amizades porque acho que aprendemos mais, mas não escolho ou busco isso racionalmente, apenas acontece. E assim o foi com a Angela e o Hugo. Queridos. Dali, decidimos não comprar a tal mala extra e arriscarmos (porque Jivago, com seu feeling sobre pesos e medidas, estava confiante de que todas estariam dentro do permitido). Mais tarde, e já em casa, quis sair novamente, mesmo no frio, para cumprir a tradição romântica de colocar nosso cadeado em uma ponte sobre o Sena - já fazia um certo tempo que eu havia comprado e decorado um, mas como viajamos muito nos últimos dias, não havia sobrado tempo. Escolhi uma ponte menos cobiçada, a do Museu d'Orsay - que foi a primeira que vi e cruzei logo que cheguei a Paris. Colocamos juntos nosso cadeado e joguei as chaves no Sena. Da ponte eu avistava as luzes da Torre Eiffel e é claro que estava em meus planos finais dar-lhe um até logo. Caminhamos pelas margens do Sena, passamos pela Ponte Alexandre, pelo Les Invalides, avistamos o Grand Palais e seguimos margeando o rio até o destino final. Avistei a Torre - como sempre, linda! Posso dizer que eu sou louca por ela... Acho-a tão elegante, tão harmônica com a cidade que eu não me canso de admirá-la. O frio estava aumentado, começou a chover e o músculo externo da minha panturrilha inventou de reclamar. Pegamos o metrô de volta ao cafofo. Quase um ano morando em uma cidade linda e o saldo, para mim, foi positivo. É claro que passei por apertos, tive medos, senti saudades, pensei em desistir, enfrentamos graves problemas de saúde na família de Jivago, mas perseveramos - ele muito mais que eu. Aprendi muitas coisas, compreendi outras, testei meus limites e descobri que a gente se adapta a tudo. Tive uma vida simples de estudante (ao estilo Hemingway), sem grandes luxos, mas com um grau de conforto aceitável. E, como escreveu esse escritor em seu livro, Paris é uma Festa: "Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena, e retribui tudo aquilo que você lhe dê".

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