quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O Vale do Loire

Cidade de Amboise
No último final de semana visitamos o Vale do Loire, a linda região que fica há quase 250km de Paris e é famosa pelo vinho e por concentrar mais de trezentos castelos e palacetes. Escolhi a cidade de Blois para ficarmos hospedados uma noite já que é central e a hospedagem é um pouco mais barata que as badaladas cidades de Tours e Amboise. Acordamos super cedo para pegarmos o trem de 7h38 na Gare d'Austerlitz e, por conta de um pequeno erro de cálculo, entramos no trem faltando apenas dois minutos para sua partida... Adrenalina... Diferentemente da viagem a Rennes, onde pude apreciar e fotografar a paisagem, desta vez o sono falou muito mais alto. Quase 1h30 depois, estávamos em Blois. Seguimos a pé da estação até um pequeno hotel onde pegaríamos o carro que alugamos já que tratava-se de um dia de domingo e a locadora não funcionava (na França, mesmo em uma região tão turística como essa, há coisas desse tipo!). Nisso, avistamos um casal em frente ao ponto de táxi da estação de trem que aparentava estar precisando de informação - eles, americanos, procuravam por um táxi para fazer o tour de um dia pelos castelos do Vale e, acreditem, não havia nenhum - provavelmente porque era domingo! Seguimos. Burocracias efetuadas, entramos no carro e, enquanto eu fazia minha maquiagem, Jivago tentava ligá-lo sem sucesso - ele procurava algum botão no painel, batia a chave algumas vezes, achou que o carro não ligava porque estávamos sem o cinto de segurança (colocamos o cinto e nada!), até que eu pedi que ele fosse perguntar como ligava o bendito carro. Maquiagem terminada, Jivago voltou dizendo que tinha que apertar a embreagem para o carro ligar - e não é que deu certo?! Cai na risada com tanta "tabaroice"! E olhe que era um corsa, imagine se fosse um carro de luxo! Dali, resolvemos passar na estação do trem para oferecer carona ao casal americano, mas eles já não estavam mais por lá. Ligamos nosso GPS pirata, cujo sistema de navegação se chama Jackson Software, e seguimos em direção ao primeiro castelo selecionado, o château de Chambord.
Castelo de Chambord
Logo de cara fiquei encantada com a grandeza e a beleza do lugar... O castelo, idealizado pelo rei Francisco I e finalizado por Henrique II e Luís XI, serviria como um retiro de caça e, por conta disso, há algumas salas onde se pode ver cabeças e chifres dos animais caçados. Depois de percorrer todo o castelo visitando lidas salas e os fabulosos quartos reais, e de ficarmos um longo tempo na parte mais alta do castelo admirando a paisagem, resolvemos vê-lo de outras perspectivas. Então, descemos a escada central, entramos na boutique e Jivago resolveu comprar uma cerveja "real" - eu que não sou muito chegada na cevada, até que gostei dessa porque senti um leve toque de mangaba (não sei se é saudade, mas juro que senti esse gosto na dita cuja!). Tomando a cervejinha real, andamos ao redor do castelo e é lindo! Paisagem que a gente não cansa de ver! Tirei mais algumas fotos e no caminho para o estacionamento (que custa 3 euros) paramos em uma banquinha de pães e fizemos a festa já que só íamos "almojantar" mais tarde. Seguimos para o château de Chenonceau. No meio do caminho, muitos vilarejos bonitinhos, muitas caves para degustar vinhos e fromageries para experimentar queijos, algumas plantações de grãos e nenhum sinal de gente - era domingo e eu ficava imaginando aonde todas aquelas pessoas tinham ido porque as cidades pareciam as vilas do Velho Oeste de tão vazias! Nosso GPS pirata não deixou por menos e, certeiramente, chegamos a Chenonceau, o castelo das damas.
Castelo de Chenonceau
Menor e diferentemente da atmosfera viril e masculina de Chambord esse château tem seu charme porque foi construído sobre o rio Cher e é, nitidamente, mais feminino pela sua decoração (repleto de arranjos perfumados em cada cômodo) e pelos seus jardins floridos. O castelo foi oferecido pelo rei Henrique II à Diane de Poitiers, sua amante e, após a morte do monarca, sua esposa, a rainha Catarina de Médicis, tomou para si o château, sendo seu lugar preferido. Durante a primeira guerra mundial, o castelo tornou-se uma espécie de hospital, abrigando os feridos. Além dos quartos maravilhosos, pode-se visitar a cozinha toda equipada e que nos dá uma noção de como era cozinhar naquela época (prefiro as cozinhas de hoje!). Seguimos para os jardins, depois para o labirinto (pequeno e sem graça) e depois para a Fazenda, do século XVI, onde estão situadas ricas e enormes hortas que cultivam as flores que adornam os cômodos do castelo. E como eu adoro horta, passei um tempinho por ali vendo os "pés" de frutas e verduras - achei até Phisalys, uma frutinha bem ácida que é típica da Amazônia e eu adoro - e como boa "brasileira" pedi para Jivago catar uma para mim... Pegamos o carro e resolvemos conhecer as cidades de Tours e Amboise - a primeira é bem grande e bonita, já a segunda, é um pouco menor e mais charmosa.    
Jardins de Villandry
Apenas passamos por ambas e seguimos para o château de Villandry - como chegamos após as 18h, só podemos visitar os jardins. Mas valeu muito porque, diferentemente dos demais castelos, nos jardins de Villandry são cultivadas frutas, verduras, vegetais, ervas... Me surpreendi com os canteiros de abóboras, repolhos, aipos... Lindos e perfumados! Mais acima, um enorme parreiral repleto de uvas verdes e vermelhas - e é impossível não ceder à tentação de comê-las. Me acabei! Passava das 20h quando resolvemos retornar a Blois para irmos para o hotel. Entramos no carro, ligamos o rádio e, para nossa surpresa, tocava Tim Maia. O programa era dedicado à música brasileira - tocando, em seguida, Ed Motta e, pasmem, Crioulo! Programinha antenado! No caminho de volta, já anoitecendo, fomos agraciados como uma imensa e linda lua cheia sob o rio Loire! Que presente! Chegamos no hotel mortos. Jivago fez o check-in e seguimos para "almojantar" em um restaurante próximo dali, indicado pelo rapaz do hotel. Eu, claro, escolhi pato - que atualmente, para meu paladar carnívoro, só perde para uma boa picanha! O restaurante era bom, mas nem se compara ao que conhecemos em Rennes durante nossa visita ao Monte Saint-Michel. Pagamos nossa conta com ticket (claro!) e eu apaguei de cansaço.
Blois
Segundo e último dia, comecei a ficar gripada... Tomei um café da manhã bem reforçado e fomos conhecer a cidade onde estávamos hospedados, Blois. Cidade pequena, antiga e local de importantes fatos históricos: chegou a ser a capital da França durante o reinado de Luís XII e também  foi o local onde Joana d'Arc juntou o exército para libertar a cidade de Orleans. Durante a Segunda Guerra, Blois foi quase que arrasada - é possível ver algumas fotos e monumentos espalhados pela cidade lembrando esse acontecido. Ela também abriga um palacete o Château Royal de Blois e a Maison de la Magie - onde há espetáculos de mágica, um museu sobre a magia e sobre a vida e obra do famoso ilusionista Robert Houdin, nascido em Blois. Depois de já ter visto dois lindos castelos no dia anterior, não tive vontade em entrar no Château Royal de Blois. Passei pela sua fachada, segui andando até a Maison de la Magie que, infelizmente, estava fechada. Desci as escadarias caminnhei pelas ruelas e subi outras em direção à Catedral de São Luís - que se chamava Catedral de Saint-Solenne, mas recebeu esse novo nome graças a Luís XIV que custeou sua reforma e restauração (ele estava em todas!). Adentramos nos jardins que ficam ao seu redor e retornamos. Observei que o comércio estava fechado em plena segunda-feira! O comércio da região funciona de terça a sábado, fechando aos domingos e segundas - e olhe que é uma região altamente turística... Vai entender! 
Catedral de Orleans
Pegamos o carro em direção a Orleans, outra importante e muito antiga cidade da região. Fundada pelos gauleses, Orleans ficou mais conhecida, principalmente, durante a Guerra dos Cem Anos em que Joana d'Arc reconquistou a cidade. Programamos Jackson, o GPS, para nos levar até o centro da cidade e ao chegarmos, nos deparamos com uma imensa catedral no estilo gótico. Estacionamos o carro e entramos. Ela era Enorme! No centro do altar, a imagem de Joana d'Arc e nas laterais da catedral, havia alguns vitrais que contavam sua história. A justificativa para tanta dedicação a ela estava no panfleto informativo, que peguei na entrada da igreja, que dizia que Joana d'Arc havia estado lá no dia 8 de maio 1429 para rezar - e, por conta disso, todos os anos, há mais de cinco séculos, neste mesmo dia, há uma procissão/ cortejo relembrando o gesto da santa. A partir dali, percebi o quanto ela é venerada na cidade e entendi o porque dela ser chamada de "a donzela de Orleans". Fiquei mais instigada a caminhar por ali. À direita da catedral há um prédio meio mouro, o Hôtel  Groslot, que era a antiga prefeitura da cidade. A visita é gratuita e vale conhecer. Descemos a rua da catedral até a praça De Gaulle, onde está localizada a casa de Joana d'Arc - na verdade ela ficou hospedada nesta casa durante sua estada em Orleans, que tinha o objetivo de "recrutar" soldados para a batalha de libertação da cidade do domínio inglês. Atualmente o lugar, que pertencia a Jacques Boucher, tesoureiro do Duque de Orleans, funciona como um mini-museu que conta a história da santa guerreira. Infelizmente a casa estava fechada para a visitação naquele horário e, como nosso tempo era curto, continuamos andando. Algum tempo depois, a fome começou a apertar. Resolvemos pegar o carro de volta e achar um restaurante que aceitasse nossos tickets. Todos os que víamos, independente de aceitarem ou não tickets, estavam fechados! Acho que, assim como em Blois, o comércio só funciona de terça a sábado! 
Monumento em homenagem a Joana d'Arc
Resultado: pegamos a auto-estrada e só fomos almoçar na Subway de Blois, a cidade em que estávamos hospedados! E eu preciso falar sobre a auto-estrada... Elas são excelentes, tem limite de velocidade de 130km/h, são "pedagiadas" mas há duas grandes diferenças em relação ao que vemos no Brasil: há, obrigatoriamente, estradas alternativas para quem não deseja pagar o pedágio, paga-se apenas a ida e esse pagamento é proporcional à quantidade de quilômetros rodados dentro delas... Genial! Já na Subway de Blois, tentávamos ser atendidos, mas o único atendente, que também era o proprietário, parecia dar mais importância em retirar do chão os galhos da árvore que ele acabara de podar do que de vender sanduíches. Só alguns minutos depois, fomos atendidos. Sentamos para comer e, novamente, o senhor saiu para resolver a questão dos galhos da árvore - nesse ínterim, mais 2 ou 3 pessoas entraram e tentaram ser atendidas em vão. De barriga cheia, fomos até o posto encher o tanque do carro para devolvê-lo e lá, mais um aperto: os postos de gasolina da França não tem frentistas, o esquema é self-service. Com medo de fazer besteira e incendiarmos o posto, lemos as poucas instruções e observamos uma senhora centenária fazer tudo. Ai Jivas tomou a frente e deu tudo certo - fora o cheiro de gasolina na mão, claro. Devolvemos o carro e seguimos para a estação de trem. Como nosso trem tinha uma escala em Orleans, conseguimos antecipar um pouco nossa ida. Porém, em Orleans, tivemos que esperar por 1h o trem com destino a Paris. Como eu estava meio gripada, Jivago saiu para dar uma olhada nas redondezas e voltou com a ideia de passarmos o tempo no quentinho de um restaurante japonês que ficava do outro lado da esquina. E, como havia sobrado verba, fomos. Lá, para a nossa surpresa, a dona do restaurante, super simpática, nos perguntou se éramos brasileiros e começou a falar em português conosco - ela é japonesa, mas fala português porque tem outros dois restaurantes, um em Portugal e outro na Ilha da Madeira. Ah, muito bom isso! Se alguém for a Orleans, recomendo o restaurante japonês Saka, que fica bem em frente à estação de trem. Menos de 1h30 depois já estávamos em Paris de volta ao nosso petit château (cafofo) que em nada lembrava a grandiosidade dos castelos do Vale do Loire, salvo a casinha do serviçal... Risos...

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