quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Em busca de um cafofo: a saga!

Não posso dizer que esse quase um mês de Paris eu tenha vivido a cidade… Tudo porque os dias estavam destinados a procurar um lugar para morar - estou temporariamente hospedada no mesmo cômodo que Jivago – um quarto de 16m², até ai tudo bem se não fosse um pequeno detalhe: de forma clandestina… Isso porque pelas normas da Maison, só estudantes de cursos de graduação e pós podem ficar hospedados. Não é o meu caso. Por conta disso, todas as quintas-feiras, dia da faxina, tinha que acordar antes que a arrumadeira cheguasse ao corredor e retirar todos os meus vestígios! Praticamente a Sol, personagem de Débora Secco na novela América, alguém lembra? Sendo assim, hora de deixar algumas coisas de lado, inclusive a vontade de conhecer as maravilhas de Paris, e encarar os sites de anúncios de apartamento… Então, me joguei na rede em busca dos anúncios… O primeiro grande desafio foi entender tudo o que eles descreviam – mas, para isso, contei com a ajuda dos meus amigos inseparáveis Dicionário José e João Google Tradutor. Depois disso, mandar e-mail ou ligar para os proprietários. Mas, até eu descobrir que aquela quantidade de números que fica no final do anúncio em negrito era o número de um celular… (vide foto abaixo)



O número circulado 
de vermelho é um número de celular

Então fiz um acordo com Jivago bem ao estilo Ford: eu procuraria e separaria os anúncios e ele faria os contatos. Ok, até que funcionou. Só que, um belo dia, vi um anúncio bacana e, advinha? Jivago estava em aula e sem créditos no celular… E ai? Tive que ligar para um amigo francês dele e pedir a ele que viesse aqui no quarto fazer a ligação para mim – isso em inglês! Tudo isso aconteceu, mas não obtivemos resposta. Bom, depois de muito Jivago ligar, mandar e-mail e ouvir "Le appartement a déjà loué” conseguimos marcar uma visita para dois apartamentos no mesmo dia! UHU! E lá fui eu acompanhar Jivas em uma aula porque de lá iríamos visitar os tais apartamentos. Fiquei fazendo hora por mais de uma hora enquanto ele assistia à sua aula – nesse tempo, pelo Gtalk, Thu me convencia a fazer esse blog – sim, já estava de volta ao mundo 3G, lembram? 19h, frio de rachar, fomos rumo à estação de metrô Bastille. Chegamos ao local: prédio típico francês com pracinha simpática na frente, lojinhas graciosas, livraria infantil e restaurantes bacanas… Já estava imaginando os Fubacas por ali quando fomos avisados que a proprietária não poderia aparecer porque estava com problemas com as chaves! Frustrada, fui tomar uma sopa na boulangerie gracinha que ficava próxima para ver se espantava o frio. E quem disse que essa proprietária atendia mais ao telefone? Enfim, esquecemos desses apartamentos e continuamos nossa saga. No dia seguinte, nova frustração… andando no frio de alguns graus negativos, chegamos à porta do prédio onde se anunciava o apartamento. Aguardamos por alguns minutos quando a porta do prédio se abriu, algumas pessoas desceram e uma delas nos perguntou se estávamos ali para visitar o apartamento e ao respondermos que sim, ela disse a terrível frase: "Le appartement a déjà loué”. Nossa, isso foi de matar‼! Os franceses não tem o menor problema em falar essas coisas! Como assim o apartamento estava alugado? A visita não seria feita naquele dia e horário? Por que não avisam? Fiquei passada com  a falta de atenção deles… Além disso, eles também não respondem e-mails, dão os números de telefone e não atendem ou deixam sempre na caixa postal… Como pode isso? Pior que isso: dois dias depois, fomos fazer nova visita a outro imóvel e mais uma vez acordamos cedo e… Chegamos na porta, ligamos para o proprietário e eis que surge uma figura típica de ator pornô da década de 70 com um cigarrinho no canto da boca e nos disse "bonjour"; respondemos e fomos entrando. O prédio internamente era horrível, cheio de entulho mas o pior estava por vir: entramos no apartamento e logo sentimos um cheiro forte de urina; além disso, demos de cara com um velho de muletas e um copo de vinho nas mãos que simplesmente cuspiu no chão quando nos viu – acreditem, os parisienses mais velhos tem a mania de cuspir no chão. Gente, aquilo era um apartamento? E estavam pedindo quase €900,0 de aluguel? Surreal… Eu e Jivago nos entreolhamos e ele disse ao proprietário: “Mesieur, merci, au revoir". Saímos de lá às gargalhas e chocados com a cara de pau daquilo! Dois dias depois fomos visitar outro apartamento, só que nos limites de Paris, mais precisamente em Paris 18, próximo à Sacré-Coeur. O apartamento ficava no sexto andar de um prédio sem elevador… Cheguei morta e ofegante. Batemos, batemos e nada! Resolvemos ligar para a proprietária que nos alertou que não era naquele bloco e sim no que ficava ao lado - ou seja, descer tudo aquilo e subir novamente no bloco seguinte!  Ok, chegamos ao apartamento certo e um ovo de codorna era maior que aquilo. Desci todas aquelas escadas meio frustrada e triste em saber que minhas já baixas expectativas teriam que ser ainda mais rebaixadas. No caminho de volta para a estação de metrô, meio cabisbaixa, parei na sinaleira e vi uma noiva descendo de um carro ao som de mulheres cantando algum mantra – era um casamento árabe! Eu, é claro, puxei Jivago para assistirmos àquilo. Ficamos alguns minutos observando aquele ritual exótico, mas foi o suficiente para lembrar que estava ao lado do meu marido e aquilo era o que importava: estávamos juntos. Neste mesmo dia, pela tarde, fomos visitar um outro apê – muito gracinha, pequeno também, mas próximo da universidade - porém, nunca fui tão hostilizada… Levamos um amigo francês de Jivas para intermediar nossa conversa, o mesmo que chamei para fazer os contatos para mim enquanto Jivas tinha aula. A proprietária francesa me olhava de cima a baixo, nos indagava tudo e tinha um jeito de falar arrogante - como se ela desconfiasse de nós, das nossas condições, além de certo preconceito por sermos brasileiros. Saí de lá triste, me sentindo como uma refugiada de guerra, não só pela sensação de estar sendo analisada e julgada, mas também porque nada entendia do que ela falava. No domingo, mais uma aventura: depois de erramos por duas vezes a estação de metrô que deveríamos descer, e já estarmos quase 30 minutos atrasados para a visita, inventamos de tirar uma grana no caixa eletrônico e Voilà – o cartão ficou preso no caixa eletrônico. Pedimos ajuda a um casal de franceses transeuntes que em nada puderam nos ajudar e fizeram o favor de empurrar ainda mais o cartão. Então, atravessei a rua, entrei no mercado, comprei uma pinça e assim conseguimos resgatar o cartão. Ingenuamente, tentamos um outro caixa eletrônico e Voilà, parte II! O cartão ficou preso novamente (definitivamente um raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar!). Mais alguns minutos de aflição e murros no caixa quando a máquina, revoltada, resolve cuspí-lo… Finalmente, quase uma hora depois do combinado, chegamos para visitar o imóvel – mais uma vez tive que subir sete lances de escada - mas, esse ainda não era o nosso cafofo. Achando que Paris conspirava contra nós, começamos então a atirar para todos os lados: sites de locação de apartamentos para turistas, blogs, listas de discussão, comunidade de brasileiros que residem aqui, boca-a-boca, enfim, até que lembrei que o meu curso de francês oferece essa ajuda – service d'accueil et de logement. Então mandei e-mail explicando toda a dificuldade e burocracia exigida, principalmente a de se ter um fiador francês (qual o estudante estrangeiro que tem fiador francês, gente?) e pedindo ajuda para alugar um apartamento. Passado alguns dias, diante de uma resposta positiva, compareci pessoalmente a essa secretaria e após alguns minutos de conversa, eis que surge em minhas mãos duas opções de apartamento! E como num passe de mágica, a responsável por esse serviço ligou para uns dos proprietários e marcou uma visita para o mesmo dia – mal acreditava que as coisas estavam fluindo tão tranquilamente… Visitamos o cafofo, pequeno e simples – bem ao estilo parisiense de morar, mas gostamos! E, finalmente, depois de tantos perrengues, bolos tomados e exigências mil, assinamos o contrato!   

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